Monday, February 20, 2006

O Frio

O frio é aquela sensação acolhedora que nos dá toda uma variedade de diferentes tipos de desconforto, começando pelo elevado número de itens roupísticos que temos de sobrepor à nossa epiderme (questão especialmente melindrosa para o Arranha visto este ser uma pessoa de amplos movimentos, que gosta esbracejar quando vê uma entidade feminina de elevado valor), passando pelo nariz congelado e finalmente, acabando nessa fiel companheira, a constipação.
Falemos então dos itens roupísticos combatentes do frio, os agasalhos.
O agasalho (uma das mais bonitas palavras em todo vocabulário português) para ser honesto com a sua funcionalidade deve ser quente e provocar o enchouriçamento do seu utente. Logo, ninguém que preze uma boa imagem ou uma boa mobilidade pode andar bem agasalhado. Aliás, como poderão ver mais à frente, esta questão de andar bem ou mal agasalhado, é, a meu ver, o melhor indicador para a idade da reforma.
Se repararmos, a maior diferença entre gerações situa-se ao nível do agasalho, sendo por norma o pai a dizer ao filho que este se agasalhe e por sua vez, o avô ao pai. Assim sendo, fiquemos então com as características gerais que diferenciam os três grupos de agasalhamento, cujos limites de idade não são rígidos.
O grupo 0 normalmente engloba pessoas cuja idade se situa entre os 12 (altura em que normalmente os petizes se começam a vestir por si) e os 30 anos. Este intervalo de idades corresponde a uma faixa etária dominada pela forma e não pela função, onde o factor determinante é a beleza e não a temperatura ou possibilidade de precipitação. Há ainda a referir que a denominação zero para caracterização deste grupo foi escolhida pelas pessoas do grupo acima, o grupo 1 - mais conhecidas por pais - as quais avaliam os elementos do grupo 0 - mais conhecidos por filhos - como sempre mal agasalhados.
Passando à frente, o grupo 1 é relativo a pessoas cuja idade varia entre os 30 e os 70 anos. Esta é a chamada geração de transição do agasalhamento, geração essa onde o agasalho já começa a aparecer na sua forma feia, quente e enchouriçada. Esta conduta induz a um certo respeito por parte dos membros do grupo 2, os chamados grão-mestres do agasalho, no entanto, este respeito é um respeito desconfiado pois os membros do grupo 1 são conhecidos por cederem bastantes vezes à tentação estética do desagasalho. É exactamente esta cedência à remoção de agasalhos por parte dos membros do grupo 1 que demonstra que ainda não estão suficientemente idosos para não darem valor à parte estética.
O grupo 2, que na óptica do Arranha deveria definir a idade de reforma para a administração pública, é relativo a pessoas que andam sempre bem agasalhadas. Estas pessoas, cuja idade se situa por norma entre os 70 e 130 anos, são como robots cuja finalidade é a completa inibição de qualquer sentimento de frio e como tal, a sua temperatura corporal nunca desce dos 40ºC. É esta conduta robótica, ou seja, sem vida, que serviu de alerta ao Arranha sobre a pertinência de este ser o melhor indicador para quando as pessoas se deviam ou não reformar. A conduta do bem-agasalhado permanente é, sem dúvida, o melhor comprovativo para a correcta atribuição de uma verdadeira 3ª idade.
Por outro lado, esta questão do agasalho é algo faz o Arranha duvidar da sua capacidade como futuro pai.
É que ter um filho homossexual, tudo bem... Agora ter um filho que, aos 14 anos, ande sempre bem agasalhado... isso sim, assusta o Arranha.
Aliás, nesta questão o Arranha é completamente intransigente. Para ele, os indivíduos de idade inferior a 30 anos que andam sempre bem agasalhados são anormais.
- Momento para o Arranha se acalmar –
Em relação à própria conduta do Arranha, este faz questão de andar mal agasalhado. No entanto, há uma excepção.
Uma parte do corpo cuja temperatura tem de estar sempre em ambiente controlado.
Essa parte é, nem mais, nem menos, do que os pés.
O pezinho frio está para o Arranha como o calcanhar está para o Aquiles. As baixas pressões sobre o pezinho do Arranha são o seu ponto fraco. Desta feita fica dada a explicação do porquê da admiração nutrida pelo Arranha em relação ao árduo trabalho da peúga.
Enfim... passando à frente que já me estou a alongar demasiado e quero ir dormir.
Abordemos agora a questão do nariz congelado.
Nada é mais apelativo para uma femea do que a formação de uma mini-estalactite na ponta do nariz. Esta formação glaciar, não consciente ao sujeito que a transporta, é gerada a partir de um pingo que, por razões de congelamento do nariz, não é sentido pelo indivíduo cuja saliência nasal suporta a dita estalactite. Esta formação é, à semelhança daquele bocado de bifana que fica pendurado fora da boca devido a um nervo, uma das imagens que mais resulta em termos de excitação do sexo feminino.
Finalmente, o frio, sob uma forma mais húmida, e logo, mais agressiva ao ser humano, é uma melhores coisas desta vida pois faculta-nos a apreciada conduta gerada pela constipação.
Dito isto, há poucas coisas nesta vida que o Arranha goste mais do que estar constipado. Porquê?
Pela escorrência de fluidos nasais viscosos, que são basicamente o estádio intermédio entre a água e a “ranhoca” verde. Aliás, é exactamente por essa razão que o Arranha é um adepto fervoroso da sopa de barbatanas de tubarão.
A escorrência de fluidos nasais pode ser uma excelente experiência se o leitor tomar a liberdade de proceder à mesma conduta que o Arranha escolheu para estas situações. Esta conduta tem como restrições, o ter de ser executada em casa e o não dever ser partilhada com ninguém, sob pena de o leitor poder perder todas as relações sociais que presenciem essa mesma conduta que vou passar a descrever.
Esta conduta deve principiar com um assoar incessante utilizando lenços-de-papel que provoquem uma rápida maximização da sensibilidade do nariz.
A seguir, vem a parte boa.
Quando o leitor sentir o pingo, deixe-o prosseguir no seu trajecto até sentir uma comichão inacreditável na ponta do nariz, sítio onde por essa altura estará alojado o comichoso pingo. Fica desde já dada a garantia ao leitor que se tiver paciência e esperar até esse momento para deter o pingo, sentirá um alívio absolutamente ímpar que o levará a uma fricção quase animalesca da ponta nariz. Experimentem e logo verão se não é bom.
São estes pequenos prazeres que Deus nos deu e que nós, como pequenas criaturas racionais, devemos de aproveitar. É por esta razão que o Arranha só vai à casa-de-banho quando já começa a ter dificuldades de respiração e a suar.
Tudo isto para, sempre que possível, sentir a imensa sensação de prazer que é efectuar uma necessidade básica quando se tem realmente vontade.
Em suma, há que tirar o sumo da vida.

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