Tuesday, February 14, 2006

Cavaco Silva, uma visão sobre a sua actividade de primeiro-ministro

A magnitude da vitória de Cavaco Silva na recente eleição presidencial assentou, em grande parte, no facto de a população portuguesa ter decidido regressar à ideia de que Cavaco foi um bom primeiro-ministro. A razão para Cavaco Silva ser, hoje em dia, visto como um bom primeiro-ministro reside na fraca memória dos portugueses e no completo desastre que lhe seguiu, chamado de António Guterres.
Dito isto, para o Arranha, Cavaco Silva foi um mau primeiro-ministro.
A explicação para esta posição por parte do Arranha reside em 4 pontos.
1º ponto - Cavaco Silva, escolheu um rumo errado para o país, rumo esse que assentava em vender a imagem de Portugal como um país onde a mão-de-obra não-qualificada era extremamente barata quando em comparação com a de outros países como Espanha, França, Alemanha, etc.. A ideia era trazer para Portugal a indústria desses países cujo único requerimento seria a necessidade de mão-de-obra barata – É pena que grande parte nossa economia se baseie no refugo da Europa dita de rica. Como exemplo disso, podemos referir o tipo de turismo predominante no Algarve -.
Deste modo, a economia do nosso país tornou-se excessivamente refém dos salários baixos. Resultado: actualmente os salários portugueses já não são atractivos pois na Europa de Leste e na Ásia existe mão-de-obra muito mais barata.
Olhando agora para os casos de sucesso dos últimos 20 anos em países pequenos na Europa, verificamos que nos sitios onde se apostou exactamente no oposto, ou seja, mão-de-obra qualificada, houve resultados muito positivos, o que faz sentido, pois em países pequenos sem recursos, o maior recurso será a população.
Ao decidir da forma que decidiu, o ex-primeiro-ministro escolheu aceitar que o futuro de Portugal passaria pelo abismo social tradicional de países que privilegiam a mão-de-obra não-qualificada, ou seja, uma minoria de pessoas ricas e uma maioria de gente pobre. Por outras palavras, escolheu-se o desaparecimento da classe média, classe essa onde normalmente “habita” a mão-de-obra qualificada.
Essa estratégia, ainda muito presente, é, a meu ver, a raiz do porquê de em Portugal até a mão-de-obra qualificada ser paga a níveis de mão-de-obra não-qualificada. A falta de aposta na organização e avaliação do sistema educativo (chegámos a ter a economista Manuela Ferreira Leite como ministra da educação!) faz com que essa mesma educação tenha pouco valor no que se refere à promoção profissional de quem a completa. Paralelamente, um rumo profissional que aposta na não-qualificação veta a grande maioria dos portugueses à realidade de que nos primeiros anos de actividade laboral serão bastante mal pagos seja qual for a sua produção, devido à remuneração dos trabalhadores ser pensada não de um ponto de vista qualitativo mas sim temporal (estou a falar da função pública, como é óbvio).
2º ponto - Cavaco Silva errou também ao apostar demasiado nas obras públicas, cujo controlo era e continua a ser nulo (note-se o caso do Euro 2004, onde quase todos estádios sofreram derrapagens financeiras inacreditáveis, sendo estas últimas nunca imputadas aos construtores). Essa decisão de Cavaco Silva fez com que se enriquecesse demasiado certas pessoas dessa área (os conhecidos patos bravos), tornando-as desse modo demasiado poderosas. Aliás, bastará olhar para os relatórios de financiamento dos partidos políticos para percebermos como os partidos são reféns desta área da sociedade portuguesa. Cavaco neste aspecto já admitiu ter errado mas este é um erro que custou e continua a custar muito caro ao país, pois formou-se uma estrutura entre bancos (quantos anúncios vemos hoje na televisão para créditos à habitação?!), construtores e poder político que será difícil de quebrar.
Que outra razão haverá para que a lei das rendas permaneça uma aberração? Há quem diga que é por solidariedade social mas será que alguém realmente acredita nisso?
3º ponto - Cavaco Silva contribuiu decisivamente para o aumento da despesa pública que, como sabemos, é o principal responsável pelo défice em relação às receitas.
Como é que Cavaco contribuiu para o conhecido défice?
Porque aumentou os salários da função pública sem critérios de qualidades, ou seja, assentou esta política irreversível e muito custosa financeiramente, na esperança de que os portugueses, altruistamente, começassem a trabalhar mais. Em mais nenhum país se espera tantos actos altruístas da parte dos cidadãos e dos governantes como em Portugal. É minha opinião que deve reconhecida a qualidade e punida a incompetência. O altruísmo é irmão de sangue da utopia do comunismo.
Finalmente, 4º ponto – A completa inabilidade, leia-se incompetência, quer de Cavaco Silva, quer de Mário Soares (Presidente da Republica nessa altura) em alertar para a importância das questões europeias. Nunca combateram a ideia “peregrina” que predominava no seio da sociedade portuguesa de que a União Europeia era uma espécie de Casa da Misericórdia que gostava de dar dinheiro aos portugueses. O custo desta mentalidade estamos hoje a pagá-lo em todas as vertentes da sociedade.

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