Monday, January 16, 2006

Pasmam-me as religiosas!
Esta parece-me ser a expressão adequada aquando confrontado com a realidade de algumas decisões tomadas por seres humanos. Há quem diga que a escolha da religião não é uma escolha mas sim uma característica cultural e geográfica com que se nasce, tal como a nacionalidade. E é pensando assim que muita gente aceita uma determinada religião. No entanto, a nacionalidade não acarreta consigo nenhuma ideologia, algo que acontece com a religião, logo, seguindo a minha convicção sobre o direito ao pensamento livre não aceito este facto de ânimo leve, e assim, questiono.
É dentro desta óptica que afirmo - entrando no campo politicamente incorrecto de questionar as religiões - não perceber como é que ainda existem mulheres nesse pedaço de terra dito de culturalmente evoluído e democrático, o Ocidente, que se afirmam de uma determinada religião. Com isto, não quero que pensem que se trata de algum texto feminista, exaltando as qualidades da mulher, pois não o é. Procuro apenas reflectir sobre as liberdades de qualquer ser humano e nesta óptica este texto é meramente o resultado de uma estupefacção decorrente de algumas realidades que, a meu ver, são retrógradas.
Vou ter de utilizar a religião católica como exemplo visto ser aquela com que convivo mais de perto.
Ora, na religião católica a mulher não pode ter as seguintes funções (entre outras):
- Não pode ser papa
- Não pode fazer parte do concílio que decide quem será o papa
- Não pode dar a missa
- Não pode ouvir uma confissão, pelo menos, no confessionário.
Corrijam-me se estiver enganado.
Ou seja, para a igreja católica, a mulher não pode liderar, a mulher não pode participar na decisão sobre quem deverá liderar, a mulher não pode dar a missa, ou seja, transmitir a palavra de Deus no encontro dominical com o resto dos fieis e finalmente, a mulher não pode absolver os pecados nos termos da confissão. É caso para perguntar, para que serve a mulher no seio da igreja católica?
Se pensássemos na igreja católica como um partido político (a melhor analogia, visto serem, em ambos os casos, seguidas ideologias) estaríamos defronte de um partido cuja dose de machismo seria vetada ao ridículo. No entanto, vejo muitas mulheres, inteligentes e independentes, a afirmarem-se como acérrimas defensoras de uma religião que as define como mero objecto a ser ensinado, aconselhado e limitado pelo homem.
Dentro de toda a emancipação da mulher, este ponto tem ficado de fora, por a religião ser algo cuja finalidade parece ser assimilar e agir sem pensar. É nesta maré de aceitação irreflectida, ou seja, apenas por ser o que é esperado de nós pela sociedade, que podemos ter a certeza de que a única razão pela qual muitos católicos não são muçulmanos é porque nasceram uns milhares de quilómetros ao lado e vice-versa.
Esta negação ao pensamento e à reflexão é, a meu ver, a repressão da nossa verdadeira e única liberdade, a liberdade de ideias.
Como diria Morin, uma ideologia tão austera e rígida apenas sobrevive por não ser actuada pela esmagadora maioria dos seus seguidores, que disfarçadamente lá vão usando o livre arbítrio de forma a encontrar os seus verdadeiros ideais.

4 Comments:

Blogger gripes said...

E como mulher católica respondo ao teu post, um tanto ou quanto indignada com o que escreves.
Vou tentar explicar outro ponto de vista, aquele nunca falado. Espero ser explícita.
1º - A escolha da religião não será uma imposição devido à nacionalidade e à característica cultural. Até pode ser imposto quando és criança, mas não me digas que sou católica por imposição. Não o sou. Chega a uma certa altura na vida em que tens maturidade suficiente para decidir o caminho que queres seguir. Tens toda a liberdade para o fazer (o tal direito de pensamento livre) e só o preferes porque o escolhes sinceramente - até porque é um caminho bem difícil, convenhamos. Mas é uma decisão de Fé.
2º- Uma mulher pode ser papa (qualquer leigo o pode ser, mas convenhamos que é mais inteligente escolher um padre). Uma mulher pode dar a missa, presidir até, celebrar a palavra, fazer homilias, dar a comunhão - a única coisa que não pode fazer é o mistério da consagração do pão. Pode ouvir confissões, conversas, aconselhar, só nao pode dar a absolvição (até o pode fazer em caso de urgência/morte de alguém).
3º- Para que serve a mulher no seio da Igreja? Para muito mais. O engraçado é que nós, mulheres católicas, não estamos minimamente preocupadas com esse papel de liderança. Não precisamos dele. Nem o queremos. O nosso papel é outro, se calhar não tão explicito ou mediático.
4º-Dizes que a "finalidade parece ser assimilar e agir sem pensar", uma "aceitação irreflectida" .Não o é. Não somos objectos a ser ensinados pelos homens. Somos mulheres inteligentes, independentes, actuais e sem preconceitos, prontas a escolher este caminho de alma e coração. Porque o queremos, porque o nosso papel é tão ou mais importante do que o do homem.
É pena é que não se perceba que há trabalho para todos. E a nossa Fé chega-nos. Não precisamos de provar nada a ninguém.

Só é católico quem quer.

PS- isto dava uma bela discussão!

5:08 AM

 
Blogger T said...

Retiro do comentário que não te importas com as restrições impostas à mulher pela tua religião, restrições que já não acontecem com os homens da tua religião. Peço desculpa pela frontalidade, mas vejo o teu sacrifício pela fé como um acto de conformismo para com as decisões tomadas, e friso esta parte, por homens. O facto de compreenderes essas limitações como algo necessário pela fé que tens, não tenho outro remédio senão respeitar. Agora há que ter em conta que essas limitações são impostas por assembleias de homens e não por Deus, o que lhes retira toda e qualquer espiritualidade. Para além disso, como homem, não me revejo no papel de inferiorizar o papel da mulher apenas por razões de fé ou por condutas em rituais religiosos - a mulher pode fazer isto, não pode fazer aquilo - quando o homem pode fazer tudo. É um desrespeito pela mulher e pelo ser humano.
Mas citando-te, cada pessoa sabe de si e aceita aquilo que quer.
Não devemos é fingir que não há pressão social acerca deste assunto.

P.S. 1 Quantas mulheres participaram no concílio para a escolha do novo papa?

P.S. 2 Quando dizes que as mulheres não estão preocupadas com a liderança, ou seja, apenas se limitam a acatar as decisões provenientes dessa liderança, gostava de saber se pensas da mesma maneira em relação à futura eleição presidencial

7:45 AM

 
Blogger andrzej said...

Ingrid, acho que o pequeno arranha dirigiu a crítica de uma forma bem clara à instituição religiosa e não à religião per si.

A ausência de mulheres nos centros de decisão católicos é incoerente com a própria Fé que referes, pelo menos nos moldes em que eu a entendo -- e, acredita, dediquei bom tempo a tentar compreender. Assim como há séculos atrás a igreja perseguia cientistas por blasfémias que hoje são unanimemente aceites, pode ser que daqui a uns séculos também a mulher possa assumir sem rodeios o ofício papal.

Mas o problema é precisamente essa extensa travessia no deserto que separa a visão do vaticano da realidade em que vivemos. É que, nestes entretantos, as gentes vão revolvendo na descrença.

Respeito a tua decisão, assim como respeito a do escriba, mas não me parece que se ganhe alguma coisa em branquear algo tão claro como o que aqui foi exposto.

Cumprimentos para os dois, e abraço pró arquitecto!

2:27 PM

 
Blogger gripes said...

t, gosto muito de blogs e tudo e tudo, mas não dá para discutir à séria. Não encontro as palavras, não sei escrever como gostaria, gosto do confronto, prefiro as palavras com expressão. Assim não há desentendimentos, não há más interpretações do que digo (por exemplo, a questão da liderança).
Por isso, um dia destes, quando nos encontrarmos, mesmo que a dançar entre 384 desconhecidos, falamos?

2:02 AM

 

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