Monday, November 14, 2005

O cumprimento (Parte II)

Continuando o estudo do acto social do cumprimento, debrucemo-nos então sobre a sua vertente física.
Beijinho – A primeira questão a ser abordada em relação a esta tipologia, é a eterna dúvida entre o 1 beijinho ou 2 beijinhos. Depois de uma cuidada reflexão, o Arranha decidiu que é, sem qualquer sombra de dúvida, adepto do 1 beijinho. As suas razões não se prendem, obviamente, por convenções sociais de que é mais fino, algo ridículo. Prendem-se sim, com o facto de dar mais jeito.
Ultrapassada esta questão, pensemos então em que situações se aplica o acto do beijinho. A meu ver, este acto é pertinente aquando lidamos com mulheres, crianças e familiares próximos. A amigos só poderá ser aplicada em situações de golo do Sporting num jogo importante ou quando nasce um filho.
Quanto à mecânica do beijinho, este pode ser dado com os lábios no rosto, o que perfaz um beijinho real (BR), ou, por outro lado, pode ser apenas uma mera colisão de bochechas (CB).
Vamos ao primeiro, o BR.
Esta tipologia de beijinho torna impossivel a reciprocidade do acto, pois para que a pessoa-A consiga beijar a outra pessoa directamente na bochecha, esta (a pessoa-B) terá de, na altura do contacto, perfazer um ângulo perpendicular em relação ao da pessoa-A.
- Pausa para visualização do acontecimento-
Ora bem meus amigos, aqui jaz o axioma que prova a necessidade de existirem, pelo menos, dois beijinhos para haver o correcto cumprimento. Porquê?
Porque apenas esta técnica permite a que cada um dos intervenientes tenha a sua oportunidade de dar um BR à outra pessoa. No entanto, esta solução requer um tal conhecimento do hábitos do próximo (Quem beija na bochecha no primeiro contacto?; quem beija no segundo?; e finalmente, como conciliar nas alturas em que ambos têm hábitos iguais?) que a sua correcta aplicação se torna extremamente dificil.
Continuando ainda no BR, a quem será adequada a execução do bj real?
A resposta é simples, gajas boas e crianças pequenas. As primeiras por razões óbvias e as segundas porque ainda não têm a bochecha preparada para o embate contra uma bochecha adulta. Em relação à execução do BR, há que ter em atenção a humidade dos lábios porque, como sabemos, não há pior impressão do que a causada por beijo cheio humidade babosa.
Quanto ao CB (Colisão de Bochechas) este é adequado a todas as restantes situações.
Suplementos do Beijinho – Há dois, um para o BR, outro para o CB. Para o BR é a chamada mão-dominadora. Esta deverá ser colocada no face oposta à que foi beijada, controlando deste modo o alvo do cumprimento. Esta técnica apenas deverá ser aplicada a raparigas que se conheça bem, sob pena de se ficar com a fama de pegajoso. Por outro lado, em relação ao CB, este pode ser adornado por um leve agarrar no braço ou no corpo, transmitindo deste modo uma sensação de segurança e cuidado. Ideal para cavalheiros.
Abraço – Adequado a todas as ocasiões que não envolvam mulheres. Elas até se podem abraçar a nós como cumprimento mas o oposto nunca deve acontecer. Como é óbvio, o abraço reconfortante dado à mulher amada não conta, devido a este não perfazer os requisitos mínimos de um cumprimento.
Ora bem, há dois tipos de abraços: O abraço frontal (AF) e o abraço lateral (AL).
O AF é acto de execução frequente entre grandes amigos ou conhecidos-plus que não se vejam há muito tempo. Esta tipologia de cumprimento é normalmente precedida por um “Choca aí” (igual ao aperto-de-mão clássico mas com as mãos na oblíqua) que serve o propósito de ganhar balanço para um verdadeiro abraço “quebra-ossos”. Como é óbvio, o primeiro subliminar desta técnica é a palmada nas costas, seguida, após o desfazer do abraço, por uma palmada na face ou no braço.
O AL é um acto de execução mais adequada a situações de proximidade familiar, ou seja, tios, primos, etc. Alguns amigos e colegas poderão igualmente entrar neste clube. Quanto à execução deste cumprimento, este começa como frontal, passando rapidamente a lateral, e finalizando na inevitável palmadinha na barriga. Ideal para encontros gastronómicos.
Aperto-de-mão – Este cumprimento divide-se em 3 tipologias, a do aperto-de-mão clássico (o bacalhau, no termo popular), a do “Choca aí” e finalmente, a do mão-inactiva.
O primeiro será ideal para quase todas as ocasiões sociais onde não exista amizade, como trabalho, novos conhecidos, etc. Também alguns familiares por uma questão de diferença de idades devem ser tratados pelo aperto-de-mão clássico. Alguém se imagina a cumprimentar o avô com um "Choca aí"?
O segundo, o “Choca aí” (CA), é ideal para demonstração de amizade e confiança. Um CA bem aplicado é um dos sons mais belos com que Deus nos presentiou, um verdadeiro canto de sereias. Alguns membros da familia mais poderão ser membros do nosso clube “Choca Aí”, mas há que não prostituir o nosso CA com qualquer um que apareça, sob pena de o desvalorizar.
O terceiro, da mão-inactiva, tem a ver com as alturas em que estamos com alguma coisa na mão responsável pelos “bacalhaus” e pelos CA, o que nos obriga usar a mão esquerda como o instrumento de cumprimento. Este cumprimento é bom para quem o executa, pois é reconhecido na Sicilia como o “Passou-Bem” dado pelos padrinhos aos seus afilhados.
Beijo-na-mão – A tipologia do beijo-na-mão (BM) esta-se a perder, o que é uma pena. Porquê?
Porque os nossos antepassados lá sabiam uma coisa ou duas sobre como impressionar uma mulher, e como reza a expressão do grande poeta Danny deVito: “Ficam que nem manteiga”. No entanto, há que referir que apenas os verdadeiros Casanova possuem carisma e charme suficientes para executar a díficil técnica do BM. Pois é meus amigos, não se iludam, quando esta técnica é bem aplicada revela-se mortífera, mas quando falha, é fraca figura garantida.
“To be continued…”

2 Comments:

Blogger andrzej said...

Toscano.. isto é material clássico. Capitaliza!!!

6:47 PM

 
Blogger andrzej said...

Lembrei-me de uma ... tens mm q escrever sobre o telemóvel/sms como escapatória em situações socialmente constragedoras. "Ah e tal deixa-me só atender este telefonema" ou o pessoal que começa logo a bater uma mensagem... Talvez não seja grande ideia. Ocorreu-me, foi só isso. A correr contra o tempo, tfc!

12:45 PM

 

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