Sunday, June 26, 2005

O cinema português

Concordo com o que disse Joaquim Almeida. Nós gostamos de chamar cinema português aos maus filmes que são feitos em Portugal. Em geral 97,5% são um completo desastre e porquê? Porque achamos que o cinema português tem que ser mau. O objectivo do típico filme português é o de não ser apreciado. De maneira que um mau filme na língua portuguesa acaba por ser uma boa obra de cinema português. Ainda não consegui assistir a bom filme português nos últimos anos. Também vou ser sincero, não procurei muito. Mal vejo os anúncios qualquer impulso que eu tivesse de ir, é automaticamente banido do meu corpo. Como cinéfilo, já me senti impelido a ver filmes do Manoel de Oliveira, mas por muito que me esforce por estar atento... dou por mim a pensar se conseguiria tocar com a língua no cotovelo. Estar a ver um pássaro dentro de uma gaiola durante 30 minutos (cena do Vale Abraão) é demais para mim. O meu limite em termos de observação de aves é de 8-9 minutos. Acho que os cineastas portugueses são pessoas cujo objectivo é tentar fazer filmes que as pessoas não vejam. João Cesar Monteiro levou esta ideia ao extremo, fazendo um filme com o ecrã vazio. Dou-lhe bastante valor pois com essa obra ele chegou ao climax do cineasta português. Por isso é que pouco depois faleceu... O seu objectivo neste mundo estava cumprido. Penso que, hoje em dia, qualquer jovem cineasta português acarreta esse sonho... o de levar pessoas ao cinema para verem o Nada!
O actor português também é uma espécie singular. Há qualquer coisa no actor português (generalização = erro) que faz com estes tenham exactamente a mesma expressão de gravidade quando a sua personagem diz:
- Já não há mais café
ou
- A tua mãe morreu
Para os actores portugueses, a gravidade de ambas as situações é a mesma.
Também não são ajudados pelos argumentistas. Os diálogos por estes feitos são absolutamente fenomenais. Como exemplo dou uma cena que vi. Esta constava de uma discussão entre dois amigos de 20 e poucos anos. Após uma troca calorosa de empurrões (mal ensaiados) e frases extraordinárias como:
- Vou-te magoar, dando-te murros e pontapés.
ou
- Aleijar-te-ei, meu cretino.
Seguiu-se a separação dos amigos, sempre feita por uma mulher histérica. Após a qual, um deles virou-se para o outro com o olhar carregado de sentimento, e disse.
- Vai-te catar
Nunca numa cena de cacetada em que tenha participado ou assistido ouvi alguém dizer vai-te catar. Mas tenho pena porque acho que ninguém conseguiria prosseguir, tal a galhofa.
Também tenho uma teoria acerca dos argumentistas dos filmes portugueses. Estes vivem nas Berlengas e só falam Berlenguês que é derivado do Português, mas não é bem a mesma coisa. Por isso é que aquilo que ouvimos nos filmes não é o que falamos. Se todos tívessemos consciência de que os filmes portugueses são escritos em Berlenguês, talvez os víssemos de outra forma.

1 Comments:

Blogger Rit@ said...

Aposto que te inspiraste no trailer do "Adriana": " Saannn todossss tan bons, tan bons."

4:46 PM

 

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