Monday, July 03, 2006

O Problema da Água

A água é fixe.
(Que início literariamente assombroso... E ainda há autores que desesperam durante dias, meses ou mesmo horas, para chegar ao ideal-impossível do início perfeito... é o preço da mediocridade)
Estamos no princípio do Verão, essa estação de recordações vastas, que parece ter começado enferrujada no que diz respeito à sua função.
Nuvens no céu, umbigos tapados, hormonas calmas, suor inodor etc...
Com este tipo de Verão, podemos ter alguma esperança de que a evolução da paisagem portuguesa - de uma semi-aridez para uma aridez completa - seja um pouco mais morosa. Pelo menos, era este o maior positivismo que eu podia proferir... até hoje à tarde.
Hoje o Arranha, cidadão exemplar da cidade Lisboa, achou por bem ir visitar os vários sistemas de rega colocados em espaços ajardinados na cidade de Lisboa. Programa interessante, que aconselho aos leitores masculinas numa primeira abordagem às fêmeas (sem qualquer tom depreciativo, atenção).
O jantar romântico está demasiado batido. Agora, ver sistemas de rega é que está IN.
Voltanto aos sistemas de rega, vários questões técnicas foram levantadas - decerto pouco interessantes ao leitor -, no entanto, há uma questão maior, transversal à biodiversidade lisboeta, que merece ser referida.
Os portugueses, como amantes de uma diversidade florística (ou seja, panascas por natureza), resolveram este ano dedicar-se a uma espécie vegetal que se revela verdadeiramente desafiante, o alcatrão. O alcatrão é uma espécie vegetal singular. Não tem folhas. Não tem floração entre o princípio de Janeiro e o fim de Dezembro. Curiosamente, também não tem vida. E ainda mais curioso, não faz a fotossíntese.
Como podemos ver, por todas as características mencionadas, o alcatrão é uma espécie difícil de "pegar". No entanto, a impossibilidade é um termo alheio ao desenrascado português, logo, toca de regar o alcatrão. Nem os persas, mestres na criação sistemas verdadeiramente inovadores, hidraulicamente falando, tiveram a coragem de apostar no alcatrão. Curiosamente, até poderiamos ter ficado pelo alcatrão, que já de si é difícil de pegar, mas não... para o português uma impossibilidade não chega... se assim fosse, seríamos como povos menores... olha, como os espanhóis, por exemplo.
De maneira que toca de regar outras espécies "complicadas" como: calçada de calcário, caixotes do lixo, carros que vão a passar, transeuntes e finalmente, a minha espécie preferida, os semáforos. Esta última gosto particularmente pois tem floração verde e vermelha (mais prolongadas) e amarela (menos prolongada), as cores da nossa bandeira. Curiosamente, num semáforo regado, o amarelo era bastante mais prolongado, será da rega? Fica no ar a pergunta.
É assim meus amigos... relvados, prados, herbáceas, arbustos e árvores, isso são coisas para países do terceiro mundo, sem água, que se têm de entregar ao facilitismo vegetal, incoerente para com o espirito descobridor dos portugueses.
Esta aposta em espécies complicadas só nos pode reconfortar em termos hídricos. Pois se temos água para regar alcatrão, temos água quanto baste.

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