Sunday, July 02, 2006

A importância dos princípios

O princípio é o ponto de partida para uma cadeia de eventos, pensamentos ou intenções. Em relação a matérias relacionadas com a sociedade, parece-me que o termo princípio assume um papel retórico diferente. Ele é a moeda de troca da cidadania democrática, um regime que promove a escolha. A noção de um homem com princípios implica que, a dada altura da sua vida, ele tomou decisões, fez escolhas... em suma, formou-se como indivíduo. Não nos passa pela cabeça afirmar que um rapaz de 13 anos tem princípios porque o termo princípio, definido desta forma, implica uma certa dose de independência - moral, intelectual e financeira - que lhe permite fazer escolhas. Escolhas adultas, não infantilizadas por um idealismo desmesurado.
Parece-me que se precisasse de caracterizar os portugueses como povo, os caracterizaria como um povo obliterado por um idealismo desmesurado, perfeito... e logo aí, desumano. É dessa permanente idealização que resulta, por consequência óbvia, o nosso famoso pessimismo. Somos bi-polares como as crianças...

ora rimos...
ora choramos...
mas calmamente
nunca estamos...


Um princípio, tal como a palavra indica, é um começo. Um começo de algo que se procuraria ideal mas que nunca o será. É exactamente na compreensão da inevitabilidade do erro e na aceitação não-conformada - mas calma - da imperfeição que encontro o que poderia chamar de comportamento adulto.
Os portugueses são um povo eminentemente infantil, altura da vida - às vezes, permanente - onde se idealiza e imagina. É numa atitude infantil, a da conformidade inerte face à impossibilidade de atingir o ideal, que assenta a lógica do "ou é perfeito ou não vale pena".
A encruzilhada em que se encontra o nosso país poder-se-ia apelidar de passagem à maioridade democrática, um estado de alma em que o país receia não conseguir lidar com o futuro. Trata-se quase de uma primeira - e amedrontada - contemplação do real.
Um elogio faço a este governo: há uma clara procura de marcar princípios, coisa que andava meio perdida na infantilidade que pairava sobre a sociedade portuguesa. Estes princípios, como a existência de uma avaliação dos professores, são absolutamente fundamentais. Mas o problema em Portugal, problema esse que não nos permite ser reformistas e evoluirmos, é que em tudo se procura um idealismo desumano, ou seja, a perfeição.
Voltando ao exemplo da avaliação qualitativa de professores, ela tem de existir. Que não há sistemas de avaliação perfeitos, não os há. Mas algo deve ser feito, algo deve ser evoluído. A democracia é um projecto inacabado e o caminho para a correcta implementação de um princípio já é suficientemente árduo pela sua infinidade.
Os princípios são um campo em que eu não perdoo aos políticos, porque um princípio não deve, nem pode, ser negociável.
Como exemplo do que não perdoo (politicamente falando), dou a antiga ministra das finanças, a Dra. Manuela Ferreira Leite, quando esta resolveu, numa medida governativa, abdicar de um princípio. A medida em causa era perdoar as dívidas resultantes de incumprimentos fiscais de forma a ter um encaixe financeiro. Neste caso, os princípios foram colocados de lado e deram lugar ao facilitismo, facilitismo esse que premiou os incumpridores. Como qualquer gestor competente lhe dir-lhe-ia, Dra. Manuela Ferreira Leite: está errado. O preço a pagar ao abdicar de princípios é demasiado alto e as prestações são demasiado longas.
E assim chegamos a uma das mais importantes funções do estado: a de impor princípios aos cidadãos, responsabilizando-os.
Quanto aos próprios governantes: serem exemplos desse acto de cidadania.

1 Comments:

Blogger Chapim said...

Caro arranhiço:

??? Só te fica bem variar o tom destes posts...

Um post com princípio, meio e fim

Abraço

R.

3:36 AM

 

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