Wednesday, July 12, 2006

Ensaio sobre a Comunicação Social (Imprensa escrita e Televisão) em Portugal - Parte I

Cada vez sou mais da opinião que gastar dinheiro na actual comunicação social não compensa, não informa e não entretem. Tal como no cinema, tenho assistido a um crescendo na quantidade de publicações, canais televisivos, etc , crescendo esse acompanhado por uma dispersão ou decréscimo na qualidade da obra em si. É óbvio que mesmo dentro da mediocridade, há umas migalhas que nos matam a fome, no entanto, essas migalhas são cada vez escassas e a sua disseminação cada vez mais vasta. Dentro do mundo das corporações ligadas à comunicação apenas uma tem realmente evoluído no sentido de uma melhoria ao nível dos conteúdos. Essa corporação chama-se RTP e deve ser motivo de orgulho para todos.
A qualidade da imprensa escrita, refém editorialmente da inevitável corporatização dos media, tem decaído a olhos vistos. É caso para dizer que há todo um espaço a preencher por alguém que se dedique ao real propósito de informar, cultivar e debater, sem nunca lograr o leitor ao tornar a escrita jornalística num modo de manipulação deliberada sobre quem a lê. Este ideal pode não ser atingido mas deve ser, na medida do possível, perseguido.
O Expresso, com a saída de José António Saraiva (um editor que exercia a sua função não como editado ou editador), tornou-se num jornal formatado, politicamente amorfo e mediano no pior sentido da palavra.
Em termos de cronistas pouco mudou.
De interesse:
As crónicas de João Pereira Coutinho, pessoa com a qual discordo na quase totalidade das ideias mas que tem as qualidades de ser afirmativo e articulado.
A ponderação de Fernando Madrinha.
As crónicas importadas de Luis Fernando Veríssimo na Actual.
E uma ou outra crónica de quem foi outrora o melhor cronista português, Miguel Esteves Cardoso.
Desprezo:
As mais que repetitivas crónicas de Miguel Sousa Tavares, um claro exemplo dos malefícios de ter demasiado espaço mediático disponível e pouco para dizer.
O elemento parasita (há sempre um) da presente era jornalística, Daniel Oliveira.
As crónicas inacreditáveis - pela sua banalidade - de Manuel Serrão.
Quanto aos cronistas, estamos despachados.
Agora é em relação às notícias propriamente ditas que o Expresso mudou radicalmente. Longe vão os tempos em que se esperava ansiosamente pelo sábado, pelo Expresso, fonte de furos jornalísticos, pequenos oásis politicamente incorrectos nesta época informação normalizada. Hoje esse Expresso é uma miragem, um nome, um hábito, um café da manhã.
Passando ao Público, este jornal, como elemento pertencente a um grupo económico altamente restritivo, é uma sombra dessa mesma limitação. Trata-se de um jornal que vende letras mas não desperta os sentidos (excepção feita talvez a Vasco Pulido Valente). A vassala personagem do seu editor (nada de pessoal contra ele, atenção) é absolutamente estruturante da atmosfera que trespassa por todo este jornal. Nada acontece dentro dele, apenas à volta e ele noticia. Nada nos surpreende ou cativa. A sua mais valia é talvez onde a sua marcada corporatização pode trazer um certo knowhow. Exemplos disso são o seu site e as interessantes colecções de DVD's a ele associadas.
Em relação a outros jornais, abstenho-me de tecer comentários por falta de conhecimento.
Quanto às revistas, três merecem a minha atenção.
A Sábado é uma mistura engraçada entre a revista cor-de-rosa e a revista séria de informação. Curiosamente, resulta bem. Excelente para relaxar, bom entretenimento, revela algum trabalho. Peca por ter cronistas desapaixonados.
A Focus é simplesmente uma nulidade.
A Visão é complexamente uma nulidade.
O problema da Visão é que lhe falta exactamente o que o nome indica... visão.
É uma amalgama de crónicas - sendo estas na sua maioria extremamente desinteressantes -, tem algumas entrevistas interessantes e muita publicidade (aliás, esse é o novo mote do grupo Imprensa, bem ao jeito dos 15 minutos de intervalos da TVI). Salvam-se as crónicas de Araújo Pereira que leio com satisfação e o texto mensal de José Gil. 10 minutos numa bomba gasolina chegam para retirar o que de "boas visões" a revista tem e mais não digo.

Como conclusão desta reflexão sobre a imprensa escrita, apenas apelo em comunhão com todos os leitores que exijamos mais qualidade do produto que adquirimos pois se continuarmos a premiar a falta de qualidade, ela continuará a ser escrita, embalada e devidamente distribuída.

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