Wednesday, October 12, 2005

As peúgas

A palavra peúga é sem qualquer dúvida um tesouro da língua portuguesa. Digam alto e devagarinho, amigos leitores.... Vá, eu espero.
Já disseram?
Óptimo.
A peúga é algo que não existe como unidade. Anda sempre com uma semelhante, de seu nome A peúga do outro pé.
Devemos olhar para este assunto através de um prisma social, e nesse aspecto devemos ressaltar que as peúgas são seres que partilham responsabilidades, dividem sacrifícios e semeiam conforto.
Elas fazem parte dum mundo roupal que não é egoísta, é idealista.
São seres que não buscam o protagonismo só para si, dividem-no.
São espécies raras nesse espaço egoísta que é o roupeiro.
Sendo assim e tendo em conta estas características, podemos concluir que apenas as luvas poderão ser vistas como semelhantes mas, como sabemos, estas últimas não são usadas com o mesmo proletarismo.
As peúgas são como que as formiguinhas do armário, prontas para toda a obra, mas nunca apreciadas.
Tenho a certeza de que nunca fizemos o seguinte elogio,
O Senhor tem umas belíssimas peúgas.”,
ou pensámos:
Que belas peúgas tenho eu.”
Retiramo-las da gaveta como dado adquirido, sem pensar nelas... nos seus sentimentos... nas suas emoções... nos seus medos...
Mudando de assunto, nunca percebi o porquê de se empregar o plural a elementos como as calças ou as cuecas. Chamo-lhes a “esquerda caviar” do roupeiro. O plural induz a que pareçam formiguinhas como as peúgas... no entanto, a unidade com que assumem o seu protagonismo, faz-nos ver que elas não querem partilhar o seu espaço. Neste sentido prefiro as prima-donas que o são às claras, como a camisa, a camisola, a t-shirt ou o casaco. Querem um espaço só para elas, assumem-no e não admitem partilhá-lo.
Dito isto, penso que mais uma vez o ser humano dá uma demonstração cabal da sua fraqueza de espírito.
Com que item perdemos mais tempo no acto da escolha da indumentária? Com as peúgas trabalhadoras ou com a prima-dona convencida? Estou certo de que a vossa resposta deixar-vos-á de mal com a vossa consciência.
Cabe a nós mudar isso...

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