Wednesday, October 04, 2006

O palavrão - Parte III

Após receber numerosos apelos de várias instituições religiosas e lares de terceira idade (locais onde estas crónicas são literatura corriqueira) à completa divulgação dos resultados etimológicos desta investigação, o Arranha decidiu-se a prosseguir com a sua reflexão.
Assim sendo, prossigamos então com o menos interessante palavrão, a palavra cona.
Primeiramente, porque será que caralho é um palavrão e cona não é uma palavrona? Fica no ar a energúmena pergunta.
Ora bem, a palavra cona é, como todos sabemos, um sinónimo da palavra vagina, o que por si só não traz nada de especial à língua portuguesa. No entanto, a diferença entre a palavra cona e os restantes palavrões aqui previamente mencionados é que há pouco para além do seu significado óbvio. Essa falta de jocosidade presente na palavra cona, retira-lhe toda a espiritualidade, daí que o seu uso revirta para alguma brejeirice. Se o caralho do avô até pode ser visto como algo engraçado, já a cona da avó é meramente uma agressividade linguística.
Procurei começar com este palavrão (ou palavrona) para demonstrar que no universo dos palavrões também há o trigo e o joio, o que mais uma vez o humaniza. E como sabemos: tudo o que é humano, é interessante. A moralidade impoluta e brejeirice completa são duas faces do mesmo mal, o mal latente quer na repressão, quer na aberração.

Passando agora à mais singular palavra do leque dos palavrões, debrucemo-nos sobre a palavra foder.
Primeiramente, a palavra foder tem como característica particular, o facto se referir no seu sentido lato a uma acção e não a um objecto. Daí que ao invés de se substantificar, conjuga-se. Eu fodo, Tu fodes, Ele fode, etc.
A acção de foder pode ser vista de vários prismas.
Para os mais puristas, foder é que praticar sexo sem amar.
Para os mais aficionados, foder é praticar sexo de forma revigorante e sem complexos.
Para os mais infelizes, o foder é sinónimo de lixar.
Penso que todos nós já usámos e vivemos todos os significados desta bonita palavra.
Muitos vezes, há situações em que vários destes significados se intercruzam numa mesma realidade. Olhemos para o óbvio exemplo da prostituta de rua, criatura fodida directamente - pelo consumidor - e fodida indirectamente - pelas vicissitudes da vida -, o que infelizmente lhe dá apenas a conhecer o lado "mau" do nómio foder.

Deixando de lado a racionalidade inerente a todo este processo de análise social e linguística, ficamos com o que será, sem dúvida, o melhor palavrão de todos, o toque de "Deus" no mundo dos palavrões.
Foda-se!
Repitam comigo: "Foada-se, Foada-se, Foada-se!"
Há lá coisa mais revigorante de se entoar.
Tendo em conta que o profeta Arranha acredita que a presença de " Deus" está apenas no não-explicável, nos sentimentos, então que melhor palavra de "Deus" existirá?
Um foda-se não é o mesmo de que um "que chatice" ou de que um "tás a gozar?" ou ainda, de que um "chiça". Foda-se é como o Amor, a Amizade, etc. Diz-se, não se pensa; Sente-se, não se escolhe.
O foda-se é o que caralho, a puta e a cona gostavam de ser. Mas não são. Uns estão mais longe, outros mais perto. Mas para tamanho grau de humanidade existir, não se pode pensar, forçar ou querer... Surge assim, do nada.

E mais não digo, foda-se!

2 Comments:

Blogger Eu said...

Eu acho que agora foste... genial! (o resto acrescenta tu)

2:54 AM

 
Anonymous Anonymous said...

tá bem o "Foada-se, foada-se, foada-se" é revigorante e tal agora vai lá dar uma queca e depois diz-me se não estás mais "revigorado".

8:03 PM

 

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